top of page

Aves Incendiárias

  • Foto do escritor: biologar
    biologar
  • 26 de abr.
  • 5 min de leitura

Gostaríamos muito de anunciar aqui no Biologar que os incêndios no Brasil terminaram, mas não... o Brasil ainda está em chamas. Esperamos que, até a publicação deste episódio, os focos de incêndio já tenham acabado. Apenas no mês de setembro, foram registrados 37.354 focos de incêndio até segunda-feira (23), o que representa um aumento de cerca de 40% em relação ao ano passado, que teve 26.452 casos no mesmo período.


Imagem: OPENAI. Feather on Fire. DALL-E, 2024. Disponível em: https://chat.openai.com/.
Imagem: OPENAI. Feather on Fire. DALL-E, 2024. Disponível em: https://chat.openai.com/.

O Que São as "Aves Incendiárias"?

Junto com o assunto incêndios, surgiram notícias sobre as chamadas "aves incendiárias". Já ouviu falar? Não?

Quando você ouve "aves incendiárias", parece mais um título fake para chamar a atenção, né? Mas dessa vez não! As aves incendiárias foram observadas por comunidades aborígenes na Austrália e atualmente por cientistas. Esse comportamento consiste em pegar galhos em chamas ou pedaços de carvão de incêndios florestais e levá-los para áreas secas, onde os deixam cair para provocar novos focos de fogo.


O Comportamento das Aves Incendiárias

O motivo por trás desse comportamento é a busca por alimento. Ao espalhar as chamas, essas aves criam novas áreas queimadas, que rapidamente se tornam espaços onde pequenos animais, como répteis, insetos e roedores, são forçados a sair de seus esconderijos e se tornam presas mais fáceis. Esse comportamento não apenas demonstra a inteligência dessas aves, mas também sua adaptação a ambientes propensos a incêndios, como o cerrado australiano.

As aves incendiárias incluem o milhafre-preto (Milvus migrans), a pega-rabilonga (Cracticus tibicen) e o falcão-marrom (Falco berigora), todas predadoras oportunistas adaptadas ao ambiente árido e propenso a incêndios.


Milhafre-preto

O milhafre-preto é uma espécie de ave de rapina de médio porte, encontrada em várias regiões do mundo, mas sua população australiana é conhecida por esse comportamento incendiário. Caracteriza-se por sua plumagem escura, principalmente marrom, e por sua habilidade em voo acrobático. O milhafre-preto é um oportunista por natureza, alimentando-se de uma variedade de presas, incluindo pequenos mamíferos, aves e répteis. Ele é particularmente ativo durante queimadas, sobrevoando a área em busca de animais que fogem das chamas.


Pega-rabilonga

A pega-rabilonga, popularmente conhecida como "Australian magpie", é uma ave de médio porte, reconhecível por sua plumagem preta e branca, seu bico forte e seu canto melodioso. Embora não seja uma ave de rapina como o milhafre-preto, a pega-rabilonga é igualmente agressiva e astuta. Sua dieta é variada, incluindo insetos, pequenos répteis e até filhotes de outras aves. Essa espécie costuma acompanhar focos de incêndio para capturar presas expostas pelas chamas.


Falcão-marrom

O falcão-marrom, conhecido como "brown falcon", é uma ave de rapina de tamanho médio a grande, com plumagem marrom-acinzentada e manchas escuras ao redor dos olhos. Este falcão é ágil e tem uma dieta variada, composta de pequenos mamíferos, aves, répteis e insetos. Assim como o milhafre-preto, o falcão-marrom segue incêndios florestais em busca de presas que escapam do fogo e é capaz de transportar galhos em brasa para criar novas oportunidades de caça em áreas adjacentes.


A Sabedoria dos Aborígenes

Esses comportamentos foram observados e documentados primeiramente por comunidades aborígenes australianas. Durante séculos, os povos aborígenes, incluindo grupos como os Jawoyn e os Yanyuwa, relataram que algumas aves de rapina intencionalmente espalhavam fogo ao carregar galhos em brasa para novas áreas secas. Essas observações foram passadas adiante como parte de seu conhecimento tradicional sobre a paisagem e as interações ecológicas do território.

Os primeiros registros formais desse comportamento, baseados tanto em relatos indígenas quanto em observações diretas de campo, foram publicados apenas em 2017 por pesquisadores como Bob Gosford e Mark Bonta. Eles conduziram um estudo detalhado que compilou relatos orais e observações científicas para evidenciar o fenômeno. Os pesquisadores afirmam que as histórias dos aborígenes foram essenciais para inspirar a investigação científica e orientar as observações mais recentes sobre essas aves incendiárias.


E No Brasil?

Agora, você certamente pensou: "E no Brasil, existem aves com ação semelhante?" Até o momento, não há registros documentados ou estudos científicos que comprovem que aves apresentem um comportamento semelhante ao das "aves incendiárias" australianas. No entanto, há algumas espécies de aves de rapina que, assim como na Austrália, se beneficiam de incêndios naturais ou controlados para caçar presas que fogem do fogo.

Por exemplo, aves como o carcará (Caracara plancus), o gavião-carrapateiro (Milvago chimachima) e o gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis) são frequentemente observadas caçando em áreas de queimadas no cerrado e em outras regiões brasileiras. Essas aves costumam acompanhar focos de incêndio e aproveitar o ambiente mais aberto e a movimentação de pequenos animais que escapam das chamas, tornando-os presas fáceis. Apesar disso, elas não apresentam, até onde se sabe, o comportamento de manipular o fogo ou espalhá-lo ativamente como observado nas aves australianas.


A Situação dos Incêndios no Brasil

Em 2024, a área queimada no Brasil atingiu um total de 11,39 milhões de hectares entre janeiro e agosto, o que equivale a 113.900 km². Esse valor é 116% maior que o registrado no mesmo período de 2023. Os estados mais afetados foram Mato Grosso, Roraima e Pará, e a maior parte das queimadas ocorreu na Amazônia e no Cerrado.

O monitoramento diário ambiental do sistema da plataforma ALARMES do RJ mostra que 99% dos incêndios no Brasil em 2024 têm origem humana, sendo causados intencionalmente ou por descuido. Os principais motivos incluem desmatamento para a agropecuária, uso inadequado do fogo e conflitos fundiários. Apenas 1% dos incêndios é natural, provocado por raios. A situação é agravada pela seca prolongada e pela falta de políticas de prevenção e fiscalização efetiva.

A plataforma ALARMES, desenvolvida pela Universidade do RS e a Universidade de Lisboa, serve como um alerta rápido sobre o avanço da área afetada pelo fogo, apoiando órgãos ambientais nas ações de combate aos incêndios florestais. Isso é feito através da combinação de imagens de satélite, focos de calor e inteligência artificial. Deixaremos o link disponível na plataforma do podcast.


Como Ajudar

Vale repetir o que falamos no episódio 178 sobre o Pantanal: se você se pergunta: "O que podemos fazer para ajudar?", existem institutos que atuam nesta causa e precisam de apoio. São eles:: Ampara Animal, Instituto Arara Azul, SOS Pantanal, GRAD (Grupo de Resgate de Animais em Desastres), Instituto Onça Fari, ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres), Instituto Homem Pantaneiro, ECOA (Ecologia e Ação), WCS Brasil e muitos outros que você pode contatar para ajudar.


E aí, gostou de saber mais sobre as chamadas aves incendiárias? Conte para nós aqui ou através da plataforma do podcast+, nos siga no perfil @biologaroficial no Instagram e nas plataformas de áudio. Até a próxima!

 
 
 

Comentários


©2020 por biologar.com.br

bottom of page