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Bituca de cigarro, ovo, borra de café são adubo?

  • Foto do escritor: biologar
    biologar
  • 16 de abr.
  • 6 min de leitura

Adubos Naturais

O que você já ouviu dizer que serve de adubo para as plantas? Casca de ovo? Borra de café? Esterco? Bituca de cigarro? Vamos conversar sobre isso?


A Origem da Discussão

A ideia do tema surgiu porque, além de estarmos atendendo pedidos de ouvintes, já não é a primeira vez que me perguntam sobre as bitucas de cigarro como adubo. Na biologia, raramente a resposta é simplesmente "sim" ou "não", e nem sempre dá para explicar tudo no momento. Além disso, com a popularização dos smartphones e do Google, surgiram muitos "especialistas" que, ao ler um parágrafo, muitas vezes desconsideram anos de estudos, não é mesmo?

Pois é, essa questão se estende desde futebol e política até medicina. Mas vamos conversar um pouco sobre essa coisa tão importante em nossa vida, seja na produção de alimentos, na ciclagem de matéria orgânica ou em nossas matas.


A História dos Fertilizantes

Há 8 mil anos, na região da China, já se utilizavam resíduos vegetais e animais, húmus de rio e esterco humano como fertilizantes. Na mesma época, na região de Roma, também se aproveitava o que havia disponível, seguindo a mesma linha do aproveitamento da matéria orgânica.

No antigo Egito, entre 3 mil a.C. e 700 a.C., os agricultores utilizavam pescados oriundos do rio Nilo na produção de alimentos.

Os fertilizantes começaram a ser comercializados na era medieval, aproximadamente entre 470 e 1450 d.C. Em meados do século XVI, índios norte-americanos foram observados colocando peixes inteiros no solo sob culturas de milho e abóbora, visando manter suas colheitas mais produtivas e saudáveis.


O Surgimento do Adubo Químico

Quando a disponibilidade de esterco de gado já era limitada, pois tudo era utilizado pelos próprios criadores, ocorreu um divisor de águas: o adubo químico NPK. Você já ouviu falar dele, né? O químico Justus von Liebig percebeu a relação entre os elementos minerais e o crescimento das plantas cultivadas naquele solo em meados de 1814. Em 1842, o NPK, que são as siglas do nitrogênio, fósforo e potássio, possibilitou a produção de alimentos em larga escala. Em 1843, surgiu na Inglaterra a primeira fábrica de fertilizantes da história.


Tipos de Fertilizantes

Agora que você conhece a história dos fertilizantes, podemos dizer que existem os orgânicos (oriundos de matéria vegetal ou animal) e os químicos ou inorgânicos (oriundos de minerais). Ambos são fundamentais para o bom desenvolvimento das plantas, e um bom agrônomo pode indicar a forma de utilizá-los conforme a análise do solo disponível e os fatores climáticos da região.


Adubos Orgânicos

Os adubos orgânicos, por serem naturais do processo de decomposição, enriquecem o solo, pois estimulam a proliferação da microbiota benéfica para o ecossistema. Eles também ajudam a recuperar o solo, tornando-o mais leve, aerado e drenado. Isso aumenta a capacidade do substrato de reter água e potencializa o desenvolvimento saudável das raízes. Os vegetais crescem com vigor e maior resistência a doenças e ao ataque de pragas. Mesmo que a ação seja mais lenta, os fertilizantes orgânicos apresentam efeitos mais duradouros, resultando em maior eficiência econômica na lavoura, já que o produtor não precisará arcar com os custos da recuperação do solo.


Adubos Inorgânicos

No caso dos adubos inorgânicos, existe a vantagem de saber com maior precisão a quantidade de cada nutriente aplicado no solo, e eles têm uma ação imediata. Porém, um dos riscos ao utilizar adubo inorgânico é exagerar na dose, o que pode danificar o cultivo. Além disso, o uso prolongado de fertilizantes químicos empobrece o solo, reduz a presença de microrganismos e pode afetar drasticamente a composição química do substrato, causando desastres ambientais. A poluição de mananciais e lençóis freáticos também é consequência da aplicação excessiva e prolongada dos adubos químicos.


A Borra de Café como Adubo

E trazendo o assunto para o dia a dia, vamos perguntar novamente: a borra de café é um bom adubo mesmo?

Como já mencionamos, quase nada na biologia é "sim" ou "não". Na verdade, tudo depende do equilíbrio de muitas coisas, como o tipo de terra que você tem, a quantidade de umidade, a quantidade de microrganismos, e assim por diante. A borra de café pode ajudar na retenção de umidade no solo dos seus vasos em casa. Além dos nutrientes, ela contém compostos que servem como repelentes contra insetos. Pode ser utilizada tanto misturada quanto forrando a parte superior do composto, ajudando também a combater o crescimento de ervas daninhas. A quantidade a ser utilizada varia conforme o seu composto, a rega e a planta. Ah, e se você tem composteira, a borra de café pode ajudar na redução do mau cheiro e na retenção de líquido.


A Casca de Ovo como Fonte de Cálcio

E a casca de ovo? Ela ajuda sim, mas para utilizá-la como fonte de cálcio, é preciso retirar toda a parte orgânica do ovo, lavar, secar bem, triturar e misturar no composto para que seja absorvida pelas raízes. Um cuidado importante é não deixar a matéria orgânica diretamente em contato com as raízes, pois isso pode queimá-las. Uma curiosidade que um dos nossos ouvintes ensinou é que a presença da casca de ovo, usada apenas partida ao meio em cima dos vasos ou canteiros das plantas que ficam na parte externa, reduz o ataque por insetos, como lagartas, devido ao alerta de que ali perto pode haver um predador, no caso, a galinha. E funciona mesmo!


Bituca de Cigarro: Um Adubo Controverso

Vamos falar da bituca de cigarro? Como sabemos, a bituca de cigarro é composta basicamente por tabaco, outros compostos químicos e acetato de celulose. Dependendo do local onde está, pode demorar anos para se decompor (por exemplo, em um asfalto, pode levar 5 anos). E claro que, dependendo da quantidade e do local em que é descartada irregularmente, torna-se um grande inimigo do ecossistema, pois a bituca contém mais de 4,7 mil substâncias tóxicas, prejudicando o solo e contaminando rios e córregos.

Em 2019, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, havia mais de 1 bilhão e meio de fumantes no mundo. Segundo a Autoridade para as Condições de Trabalho, cada fumante consome uma média de 7,7 cigarros por dia. Na matemática simples, isso gera mais de 12 bilhões de bitucas descartadas diariamente. Diante disso, diversas ações no mundo todo levaram empresas a se especializarem na reciclagem de bitucas, separando as partes plásticas para a produção de outros produtos, como bancos e telhas, e descontaminando e reutilizando o restante em projetos como adubação e contenção de barrancos no plantio de gramíneas.

Então, a bituca pode sim ser um adubo, através de um processo semelhante à compostagem de material orgânico, que consiste em descontaminação, trituração, normalização e estabilização. Isso neutraliza a carga tóxica da queima do cigarro para, posteriormente, aplicar no solo, ajudando a reter a umidade e nutrientes.

Claro, quanto mais bitucas em um solo pobre em microrganismos, mais tratamento de descontaminação é necessário para o aproveitamento das bitucas como adubo. E quanto menos bituca utilizada em um solo rico em microrganismos, mais rapidamente ela servirá como componente benéfico do composto.


O Uso de Peixes como Adubo

E essa história de utilizar o peixe como adubo, você já tinha ouvido? Eu imaginava, mas nem tinha ideia de quão a técnica já foi utilizada no passado e ainda é uma alternativa bem legal para a reciclagem de resíduos de pesqueiros. Criadores podem utilizar na própria horta ou pomar, economizando em adubos. Além disso, para quem tiver disposição, é possível fazer uma emulsão de peixe em casa.

Como as emulsões comerciais de peixe são feitas de partes do peixe, e não de peixe inteiro, elas têm menos proteína, menos óleo e menos ossos do que as versões caseiras feitas com peixe inteiro, tornando os benefícios da emulsão de peixe caseira ainda mais surpreendentes. Lembrando que as bactérias e fungos são necessários para a saúde do solo, compostagem quente e controle de doenças. As versões caseiras contêm muitos microrganismos bacterianos, enquanto as emulsões comerciais contêm poucos, se é que existem.


Receita Caseira de Emulsão de Peixe

A receita caseira é simples, em três passos:

  1. Passo 1: Despeje uma camada de serragem de 3 cm de altura no fundo de um balde de 20 litros. Este é o componente da mistura que absorve nitrogênio extra expelido pelo peixe em decomposição. Você pode substituir a serragem por folhas secas ou aparas de grama.

  2. Passo 2: Despeje todos os restos de peixe no balde. Se o resto de peixe tiver água, coloque também. (A proporção é 3 partes de serragem para 1 parte de peixe).

  3. Passo 3: Coloque 2 colheres de sopa de melaço no balde. O melaço alimenta os micróbios que eventualmente decompõem as partes do peixe.


Adubos Regionais

Lá no Ceará, nasce muito uma planta chamada jurema, que é cortada do pasto e feita em montes de folhas secas. Eles chamam isso de estrume e usam como adubo para as plantas, pois é o que têm disponível, junto com as fezes de gado. Já na Paraíba, as fezes de cabrito são muito utilizadas como adubo.


E na sua cidade, o que é mais utilizado como adubo? Conte para nós através da plataforma do podcast e siga nosso perfil @biologaroficial no Instagram. Até a próxima!

 
 
 

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