Febre Maculosa x Desmatamento
- biologar

- 21 de abr.
- 3 min de leitura
Certamente você ouviu falar sobre os casos de febre maculosa em Campinas, interior de São Paulo. É uma doença que voltou a ser notícia depois de muitos anos em silêncio. Quer saber mais sobre como e por que essa doença pode ter voltado à tona? Será que foi ao acaso ou tem mais coisas por trás disso?

O Que é a Febre Maculosa?
A febre maculosa é uma doença causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e é transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma cajennense). O carrapato é um aracnídeo, parente próximo das aranhas, e é um parasita encontrado em animais como cavalos, tamanduás, bois, antas, capivaras e até em aves. No episódio 72, conversamos somente sobre os carrapatos, onde explicamos que, durante a fase larval do carrapato-estrela, ele é conhecido como micuim (muitas pessoas acham que são carrapatos diferentes).
A febre maculosa é reconhecida no Brasil desde 1929 e é considerada endêmica na região Sudeste, onde a taxa de mortalidade supera 50% dos casos registrados. Apesar de ser uma doença potencialmente letal, é classificada como rara, com menos de 15 mil casos registrados por ano.
Sintomas e Transmissão
Os sintomas da febre maculosa incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações, erupções cutâneas ou manchas vermelhas pelo corpo. O doente pode apresentar todos os sintomas ou apenas alguns deles.
Para haver a transmissão, o carrapato infectado deve ficar fixado no hospedeiro por pelo menos 4 horas, permitindo que as bactérias se multipliquem e se espalhem pela corrente sanguínea. O período de incubação varia entre 2 e 14 dias. É importante lembrar que a doença não é transmissível entre humanos.
Além do carrapato-estrela, a bactéria Rickettsia rickettsii pode ser transmitida pelo carrapato Amblyomma aureolatum, conhecido como carrapato amarelo do cão.
O Papel do Desmatamento
O carrapato-estrela, que está envolvido nas contaminações em Campinas, é oriundo do cerrado. A região próxima a Campinas é uma divisa entre o Cerrado e a Mata Atlântica, biomas que sofreram e ainda sofrem com o desmatamento. O carrapato-estrela se adaptou bem em áreas verdes chamadas antropizadas, ou seja, modificadas pelo homem. Com a derrubada do Cerrado e o surgimento de matas secundárias, o carrapato entrou em locais onde não existia antes e se adaptou.
Ele encontrou a capivara, que se tornou famosa por possibilitar a proliferação da bactéria. A população de capivaras é crescente, pois esses roedores se reproduzem rapidamente, servindo como novos hospedeiros para a bactéria. Além disso, as capivaras se adaptaram bem às áreas urbanas, encontrando água em represas, lagos e rios, e alimento em gramados de parques e pastos.
Vale ressaltar que nem todas as áreas com capivaras e carrapatos têm contaminação por febre maculosa. Mesmo em áreas endêmicas, menos de 0,1% dos carrapatos estão infectados. Por ser uma doença letal, é importante ter atenção ao encontrar carrapatos: retire-os com cuidado usando uma pinça, sem estourá-los, e fique atento a possíveis sintomas.
Biodiversidade e Saúde Pública
Pesquisadores compararam a presença da febre maculosa em áreas protegidas e desmatadas e descobriram que a doença não foi encontrada em áreas conservadas. Isso indica que, em áreas preservadas, a febre maculosa segue seu ciclo natural em meio à biodiversidade, sendo uma bactéria de circulação mais silvestre do que urbana.
A biodiversidade está conectada ao bem-estar humano, como já foi percebido com o retorno do surto de febre amarela em São Paulo. O desmatamento traz à tona questões como fotossíntese, emissões de gás carbônico e a necessidade de preservação da Amazônia, mas é importante lembrar que o Cerrado e a Mata Atlântica já ocuparam grande parte do território nacional, e o que sobrou são apenas fragmentos do que existia antes.
Os problemas resultantes do desmatamento descontrolado são previsíveis, mas o retorno de doenças como a febre maculosa ou o surgimento de novas doenças é mais difícil de prever. Muitas consequências do desequilíbrio causado pelo desmatamento só serão visíveis com o passar do tempo. Em áreas onde o desmatamento é licenciado regularmente, empresas são contratadas para fazer o Laudo de Vulnerabilidade da Febre Maculosa, que investiga a presença de carrapatos e as chances de se tornar um problema na área.
E você, ficou preocupado com a febre maculosa? Já tinha pensado que o desmatamento poderia trazer outros riscos, como o reaparecimento ou novas doenças? Conte para nós através da plataforma do podcast+, nos siga no perfil @biologaroficial no Instagram e nas plataformas de áudio. Até a próxima!




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